domingo, abril 25, 2004

A liberdade está passar por aqui

A direita afirma: Abril é evolução. Já acabou a revolução.
A esquerda contradiz: Ainda não acabou Abril. A revolução
um dia ainda há-de florir.
Saramago descobre que o melhor é votar em branco.
O povo não quer tanto.
O silêncio de sempre. A evolução não lhe trouxe a revolução.
Salazar não foi só azar.
A direita continua: trinta anos é muito tempo.
A esquerda replica: o caminho para o futuro é lento.
O governo avisa: o futuro será mais duro, até mesmo mais durão,
mas já vejo a luz para além destas portas. Acreditem, não é o
discurso da tanga.
Cavaco, do seu canto, espirra: Atchiiiimm!!
Santana, educado, respeitoso, sussurra: Santinho...
Toda as mulheres do país, logo suspiram: Santana!!!
Guterres desvia o olhar. Não dá cavaco a ninguém.
Soares declara num tom conspirativo:
este gajo não tem al-qaeda para isto!
Saramago perde a sua pose de duro e abraça Durão.
O Lobo, numa história destas há sempre um lobo, desabafa:
este gajo agora lava mais branco!
Jardim, por sua vez, a suar, ameaça: escavaco essa merda de país
todo, se os comunistas votarem todos em branco. Faço da Madeira
uma jangada de pedra, e ficareis para sempre à beira-mar desplantados!!!
Por cá, num prado, um coelho atónito, dialéctico, didáctico, dicotómico,
dividido uiva: tirem-me deste filme!! Este país não me serve!
Clara, uma menina clara, alva, esperta, acerta no alvo:
Em 2024, a revolução dos cravos, já deve ser apenas nome poético
para perfume ou loção.
Portas pouco se importará com isso.
Estará sentado em Belém. Não devendo nada a ninguém.
Mas sem cabelo.


FC